sexta-feira, 12 de abril de 2013

CRÍTICA - Mama

Mama renova o gênero Terror
e apresenta um diretor que ainda pode assustar muitos espectadores

MAMA - Mama



Foi preciso um diretor argentino, um curta-metragem de base, e a associação a um produtor de renome, para que depois de anos Hollywood conseguisse finalmente apresentar um terror de qualidade. Mama mescla os mais variados elementos utilizados no cinema de horror para criar uma atmosfera sombria e elaborar um vilão assustador sem precisar se valer de imagens grotescas. O longa de Andrés Muschietti dá nova vida ao gênero e arrepia os espectadores, que sequer conseguem dormir em paz depois da sessão.

Mama trata-se da extensão de um curta espanhol de mesmo nome criado por Andrés Muschietti que fez sucesso em festivais internacionais. O trabalho conjunto do argentino com Guilhermo Del Toro vai muito além do esperado, e cria uma história tão bem elabora que se permite acrescentar integralmente o curta ao longa sem que o espectador sequer perceba que ele está ali.

Na trama somos apresentados a um pai de família desesperado por ter perdido seu dinheiro e suas posses. Após matar os sócios e a esposa, ele pega as filhas Lilly e Victoria, de um e três anos, e as leva para uma cabana no meio da floresta. Completamente aturdido, tenta matá-las, o que força um espectro a agir e a tomar conta das meninas. A essa entidade elas dão o nome de Mama.

Anos depois, psicologicamente afetadas, as meninas, que quase se tornaram animais, ficam sob o cuidado do tio Lucas, interpretado por Nikolaj Coster-Waldau e sua namorada Annabel, papel de Jessica Chastain. Nikolaj é um ator descartável no filme, ele faz o papel dos gêmeos, pai e tio das meninas, que servem apenas como gatilho para o enredo principal. Mas é um ato proposital, já que daí em diante o filme elabora uma lenta evolução de suas personagens durante o período em que passam a morar em uma casa grande e o espectro de Mama vai aos poucos se tornando mais presente.

Para tanto Muschetti se vale de vários elementos já conhecidos do horror, mas que não eram mais bem empregados. Canções de ninar, risadinhas de crianças, visão embaçada, um cachorro sensitivo à presença do fantasma, portas fechando sozinhas e mariposas, são apenas alguns dos aspectos que o diretor brinca com grande facilidade. Andrés os  encaixa em momentos propícios sem parecer óbvio, mostrando para a geração “Atividade Paranormal” que não basta apenas compreender o que forma um terror, é preciso também saber construí-lo.

Mas nesta tática está também o erro de Muschietti, ao fazer de Jessica Chastain uma figura contrária à mãe exigida pela sociedade, em sua tentativa de evoluir a personagem ele passa a procrastinar o confronto entre Mama e Annabel. O diretor usa de momentos de tensão e suspense para agonizar o espectador e durante este período construir a relação mãe/filha, mas a evolução não acontece claramente, e quando aparece dá a impressão de ser rápida e forçada, tornando o tempo dedicado a isso em momentos vazios, que poderiam ser removidos sem grande prejuízo para a história. Em contrapartida, Chastain e as mirins Megan Charpentier e Isabelle Nélisse compensam e constroem personagens convincentes capazes de sustentar o longa praticamente sozinhas.

A visão de Del Toro se faz notar na utilização de cores frias para os momentos críticos, e eleva a trilha sonora ao máximo para levantar os espectadores das poltronas,  transformando o longa em um grande aliado do silêncio, o que possibilita a seu público respirar e esperar pela nova aparição do vilão. Somado a isso, Muschietti dá nova forma ao espectro que criou no curta, e traz para o cinema atual um novo rosto maligno, que não precisa de armas e não tem a necessidade absurda de jogar vísceras no rosto do público. Permite-se utilizar os cabelos longos de fantasmas de filmes orientais, mas ainda assim se sobrepõe e cria uma imagem que pode aterrorizar mesmo horas depois do filme ter acabado.

Em uma época que o terror está reduzido a remakes e estrapolações sem sentido do 3D, onde tudo o que conta são garotas de biquíni e coisas sendo arremessadas da tela, o filme vem como um sinal de que alguém, mesmo um rosto desconhecido de Hollywood, ainda possuí talento para assustar o público. Mama é um terror que remonta o  gênero com ferramentas já utilizadas antes, e o faz com sucesso ao construir com elas uma história convincente. O filme se torna uma promessa de Muschietti, um diretor latino que ainda pode assustar muita gente.



Diogo S. Campos



BÔNUS:

Eis o curta de Muschietti que deu origem à Mama.
(Tem uma introdução com Guilhermo Del Toro, se quiserem avançar, o curta começa aos 50 segundos)





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