quarta-feira, 17 de abril de 2013

CRÍTICA - Oblivion


Apenas beleza não constitui um bom filme


OBLIVION - Oblivion

Das versões de filmes pós apocalípticas que Hollywood já apresentou, Oblivion é certamente a mais bela. Joseph Kosinski aprimora em muito aquilo que utilizou em Tron: O Legado, e cria um filme com efeitos visuais fascinantes, mas esquece-se que não é apenas beleza que constitui um filme, e peca em demasiados pontos para que consiga obter um filme digno de elogios.

Oblivion tem um roteiro simplório, e isto é percebível já em seu princípio. O que normalmente fascina o público em uma ficção científica são seus mistérios, filmes com maior dificuldade de compreensão impressionam mais, como visto em Matrix e A Origem. No filme de Kosinski é diferente, Jack Harper, interpretado por Tom Cruise — já familiarizado no ramo de filmes além da imaginação — aparece como um narrador lhe contando que a trama se passa 60 anos depois do ataque dos Scavs, no qual a humanidade venceu a guerra mas perdeu o planeta. Ele faz parte de uma equipe de manutenção que se prepara para sair do planeta e mudar para uma lua de Saturno. E aí está praticamente tudo o que você precisa saber para a primeira hora do filme, seus mistérios vão surgir lentamente e se mostrarão fáceis de resolver, reservando talvez uma ou duas surpresas ao espectador.

Pelo lado positivo pode-se destacar a representação da Terra. Em um planeta onde a humanidade praticamente cai no esquecimento — apenas umas das inúmeras interpretações que se pode tirar do nome do filme — a natureza tenta retomar seu lugar de direito. É facilmente perceptível a preocupação de Kosinski em fazer o cenário futurístico não apenas reconhecível, mas realístico. O simples fato de não criar uma Estátua da Liberdade como em Planeta dos Macacos, ou uma cidade destruída, como em Eu sou a Lenda, demonstra o quanto a sério levou seu trabalho, mais palatável e menos comercial.

Esta preocupação do diretor, em elaborar cenários detalhados e também contrastantes entre si, seja nas áreas devastadas da Terra de 2077, seja na morada altamente tecnológica ou no refúgio secreto de Jack, tornam Oblivion um filme visualmente impecável.

Mas sabe o que dizem sobre os livros e suas capas. Nesta preocupação demasiada com seu aspecto visual está também o erro de Oblivion. Kosinski acrescenta em sua versão apocalíptica uma dose de romance, com direito a triângulo amoroso, crises existenciais e momentos do cotidiano. Tais períodos, desenvolvidos em cenas tocantes, são interessantes ao primeiro encontro da plateia com o filme, mas se alongam durante tempo demais, atrasando a problemática do filme. Leva quase metade do tempo da fita para que Morgan Freeman apareça, o que acontece rapidamente e desvaloriza um ator capaz e talentoso, transformando-o em pouco mais do que um figurante.

Neste aspecto o filme é prejudicado por sua própria campanha de lançamento. E aqui surge mais um erro de Oblivion. O público já sabe da existência de outros humanos, já sabe que estão mentido para Jack Harper, não havia necessidade de elaborar um primeiro ato tão extenso e maçante.

Com um roteiro capenga e um desfecho questionável, Oblivion acerta ao menos na escolha de seus protagonistas, um Tom Cruise totalmente à vontade, seja em seu aspecto futurista ou recluso em uma cabana ao som de Led Zeppelin, e ainda com Andrea Riseborough e Olga Kurylenko, que completam o triângulo amoroso. Mas esta ideia de construir um romance em um cenário pós apocalíptico é falha, Kosinski dedica-se demais ao aspecto visual do filme e falha ao desenvolver seus personagens que, salvo Jack Harper, não são aprofundados. Com isso, Oblivion torna-se um filme bonito, mas disfuncional. Um produto que conta com a compreensão do público para se tornar, no mínimo, aceitável.


Diogo S. Campos


2 comentários:

  1. Cara, não assiti Tron ainda... e Matrix, foi um filme que não gostei muito. Mas depois de ler sua crítica, acho que vou dar uma espiadinha.

    ResponderExcluir
  2. HAHA, Matrix divide muito as opiniões, mas vale a pena conferir tanto Tron quanto Oblivion.

    Abração Bruno, e obrigado por acompanhar!

    ResponderExcluir