quinta-feira, 7 de março de 2013

CRÍTICA - Hitchcock


Filme exalta a grandeza que faltava a  Alfred Hitchcock...

Um presente a todos os apreciadores de sua obra


HITCHCOCK - Hitchcock

Hitchcock foge totalmente à linha de filmes que o mestre do suspense apresentou a seus fãs durante décadas. Mas é justamente a maneira como Sacha Gervasi construiu a cinebiografia, com humor e um protagonista caricato, que dá ao filme a grandeza que faltava a Alfred Hitchcock, um presente aos apreciadores de sua obra e mais uma razão para admirá-lo.

Ao contrário daquilo que a campanha de lançamento fez parecer, o filme não trata especificamente dos bastidores de Psicose (1960), vai muito além. É um mergulho na maneira de trabalhar de um dos maios famosos diretores de suspense, em sua vida pessoal, suas manias, trejeitos, relação com a esposa, e o fascínio pelas belas protagonistas escolhidas a dedo para suas obras.

A trama nos apresenta um Hitchcock em crise. Atordoado pelas críticas de seu último filme, Intriga Internacional (1959), e pressionado a se aposentar. O diretor então parte em busca de um novo projeto, e então testemunhamos os eventos até o lançamento de Psicose, que viria a reerguer a carreira de Alfred, e se tornar sua mais famosa obra.

Anthony Hopkins é esplêndido, sua caracterização e o uso de prostéticos o deixaram tão semelhante a Hitchcock que, por vezes, é possível se esquecer de quem interpreta quem. Sacha Gervasi se permitiu criar uma caricatura para o diretor nem tão reconhecida por seus fãs, o qual tem a presença no set de filmagens exaltada e esperada, enquanto a história corrobora com certa repugna da equipe por Alfred. Mas trata-se de uma escolha, e acertada, que faz o filme funcionar e captura o espectador.

Na maneira Hitchcock de elencar atrizes, Scarlett Johansson e Jessica Biel encarnam os papéis de Janet Leigh e Vera Miles. Nada extraordinário nas atuações, a presença de ambas é apenas mais uma forma de Gervasi exaltar os gostos de Alfred.

A certa altura, o filme recria a marcante cena do chuveiro de Psicose, momento em que fica clara a liberdade que Sasha se atribuiu, ao escapulir do livro de Stephen Rebello, Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose, no qual o longa é baseado, e mostra com inteligência e diversão, uma versão alternativa de uma das cenas mais famosas do cinema de suspense.

Acima de tudo, Gervasi e Rebello respeitam a nova geração de espectadores, apresentam um longa que não exige o conhecimento de seu antecessor, ou da vida do diretor, mas ainda assim não se perde, é fiel a memória do cineasta (embora possa desagradar fãs mais assíduos), e conclui magistralmente, sem promessas nem lacunas.

Talvez o maior presente a admiradores de Alfred Hitchcock seja a forte presença de Alma Reville, interpretada pela sempre brilhante Helen Mirren, que finalmente é apresentada ao público. A companheira fiel do diretor é não apenas sua esposa, mas colega de profissão e seu porto seguro, a prova escrachada de que por traz de um grande homem há uma grande mulher. Mas isto não desmitifica o mestre do suspense, pelo contrário. Mostra sua capacidade de acatar críticas e superar a si mesmo, revela um lado romântico, sádico, e cômico que para muitos era desconhecido, e faz uma belíssima homenagem ao homem que julgava a todos “psicopatas em potencial”.


Diogo S. Campos


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